Inclusão de indígenas no ensino superior fomenta a diversidade nas universidades e pode melhorar condições das comunidades de origem dos alunos
Por Ariane Melo
O estereótipo do índio exótico, de pele vermelha que anda nu pela sela selva há muito tempo não dá conta da realidade. E ficou ainda mais démodé depois que jovens e adultos indígenas passaram a ingressar em universidades públicas e privadas, encorajados pelas leis de cotas sociais e incentivos de instituições de ensino.
Os indígenas buscam o conhecimento necessário para provocar melhorias em suas comunidades e gerar oportunidades de desenvolvimento. Evitando se distanciar de sua identidade original, eles querem agregar novos valores e ser reconhecidos como parte da totalidade do povo brasileiro.
Daniel Munduruku, escritor indígena formado em Filosofia, com licenciatura em História e Psicologia, e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), aos 9 anos aprendeu a negar o próprio idioma para continuar na escola. Nessa ocasião, prometeu á si mesmo que não seria mais índio, e sim astronauta. “Ser índio era ruim, meus colegas provocavam muitas brigas”.
Ao se recordar do dia em que seu avô o levou até um igarapé para lhe aconselhar que a vida tem de ser igual ao rio, que corre para encontrar alternativas, ele admite: “...até aquele momento não sabia que o rio falava. É preciso ser água corrente o tempo todo”, disse Munduruku.
Pindorama, como o Brasil era chamado pelos nativos indígenas, foi o nome escolhido para o programa de inclusão social da PUC, criado em 2001 em parceria com a Pastoral Indigenista da Arquidiocese de São Paulo, entre outras entidades. O programa tem a colaboração da associação indígena SOS Pankararu, que visa oferecer bolsas de estudos para alunos indígenas.
Cotas e bolsas
Benedito Prezia, coordenador do Pindorama, comenta que um dos objetivos da iniciativa é fazer com que os alunos tenham condições de influenciar as políticas públicas. “A ideia é fazer com que os jovens indígenas possam se qualificar para competir em pé de igualdade com os demais jovens do Brasil; formá-los para que se tornem lideranças em suas próprias comunidades e tentar influir nas políticas públicas do seu município, estado e país”.
O Programa Pindorama disponibiliza 12 vagas anualmente. Segundo a universidade, 74 indígenas de doze etnias diferentes já passaram por ele desde o início do projeto e 49 alunos se formaram. Para a admissão, os alunos devem morar em São Paulo, uma exigência da Fundação Nacional do Índio (Funai). Os cursos mais procurados são Letras, Pedagogia, Serviço Social, Gestão Ambiental e Tecnologia e Mídias Digitais.
Para os alunos índios, o acesso ao conhecimento e às tecnologias, é uma maneira de amparar e fortalecer as suas comunidades de onde vieram. Emerson, da etnia Nhandeva (Paraná), formado pela PUC, conta que desejava cursar Ciências Sociais porque sempre esteve ligado às questões sociais “Escolhi o curso para entender melhor a problemática envolvendo os assuntos indígenas”.
Eurico Sena, da etnia baniwa, (alto Rio Negro, AM) e graduado em Filosofia, Teologia e Direito, aponta as contradições no caminho dos indígenas universitários. “O estatuto do Índio diz que, se você sair da aldeia, você não é mais índio. Eu fico brincando com eles então que uma hora eu sou índio, uma hora eu não sou. Parece que eu estou brincando de ser e não ser índio. Na verdade, não existe isso, se você vai para os Estados Unidos você é brasileiro lá e aqui, não importa... Eu tenho que me sentir bem trabalhando aqui numa empresa como consultor de marketing e me sentir bem lá na comunidade indígena, pescando, flechando, comendo peixe assado. Eu sou eu mesmo”, disse Sena para a publicação Psicologia e povos indígenas do Conselho Regional de Psicologia.
Oi Ariane! sussa?
ResponderExcluirCurti muito sua matéria, pois além de ser uma obra jornalística traz um tema pouquíssimo tratado pela mídia, seja ela impresa, TV/rádio ou internet! Como a Karina comentou uma vez em aula, o jornalista não pode ter preconceitos. Acho que você foi por este caminho!
Beijos
Leandro