segunda-feira, 14 de maio de 2012

O arquivo da MPB

Fernando Faro, o incansável Baixo, segue carreira de sucesso na apresentação e direção de programas de TV

Por Cintia Sunega

Para muitos ele é quem mais entende de MPB no Brasil. Muitos ele cativa com sua fala mansa e seus olhos azuis e serenos que são conhecidos apenas nos bastidores das entrevistas que faz. Ele expôs em mais de 700 entrevistas a intimidade de grandes artistas de música nacional. Jornalista, produtor musical, compositor, diretor de shows e de programas de TV,  Fernando Faro aos 84 anos ainda mantém seu ritmo de trabalho na TV Cultura.



Ainda dirige e apresenta o programa Musical “Ensaio”, além do programa de entrevistas “Móbile”. Dirige também o “Provocações”, com entrevistas feitas pelo apresentador e velho amigo Antônio Abujamra. Baixo, como Faro é mais conhecido, ganhou este apelido de Cassiano Gabus Mendes quando, na década de 60, foi pedir emprego na TV Tupi. E foi lá que, em 1968, criou seu grande sucesso: o programa “MPB Especial”, que na década de 90 passou a chamar-se “Ensaio”.

Mas a história do formato de sucesso do Ensaio remete a seus tempos de jornalista.  Em 1958, na TV Paulista, Faro assumiu o cargo de editor-chefe de telejornal - depois de passar pelo periódico A Noite e pela Rádio Cultura, entre outros veículos. Foi nesta época em que teve o insight do formato do programa Ensaio. Ele conta que um dia estava na redação e ligaram da polícia para informar que haviam prendido o Jorginho, um bandido famoso na época.  Então pegou um cinegrafista e correu até o DEIC. Quando chegou lá não deixaram entrar com a câmera para fazer a entrevista na cela, então ele pediu pelo menos para deixar entrar o microfone. E foi assim que ele fez a entrevista. Ficou do lado de fora da cela, entrevistando o bandido Jorginho.  Voltou para a TV Paulista com aquele áudio e pensou em trabalhar aquilo numa edição interessante. Fez umas emendas e a notícia foi ao ar. 

Quando, já na década de 1960, procurava novos desafios na TV Tupi,  lembrou da gravação em off que fez do bandido Jorginho e pensou que aquela seria uma maneira interessante de entrevistar, já que achava que um apresentador era um ruído forte demais para a TV. Foi assim que criou o formato do programa “MPB Especial”, falando baixinho com os entrevistados, revelando em closes e na luz marcada a intimidade de grandes músicos da música popular brasileira. Valorizando os detalhes, como olhos, mãos, boca, Faro diz que o programa enfoca o entrevistado  como se fosse uma pessoa abstraída, que podia ter saído de um quadro de Picasso, ou de um Dalí.

O Baixo se emociona ao lembrar do  MPB Especial de 1972 com Aracy de Almeida, de quem sente muita falta até hoje. Fala com lágrimas nos olhos sobre sua amizade com “Araca”, e dos shows que ele dirigiu para ela. Num dos shows ligaram para ele e disseram que a Aracy não iria entrar no palco se ele não fosse ao teatro. Quando chegou lá, ouviu-a dizendo por detrás das cortinas: - “Se o Baixinho não aparecer eu vou me pirulitar!”

Lembra também dos indomáveis Jair Rodrigues e Elis Regina. Ele conta que Jair Rodrigues deu trabalho durante a gravação, pois ele não parava embaixo da luz marcada do programa. E conclui dizendo que não deu pra segurá-lo.“O Jair é indomável.” Já a amiga Elis Regina na gravação foi dócil e  tranquila.  “Ela era brincalhona. Foi divertido. Ela morou um tempo lá em casa, então eu chegava da TV Tupi meia-noite e ela estava na porta. Eu abria o portão da garagem e falava:  

“Vamos jantar, Baixa?” Ela dizia: “Você quer mesmo, Baixo? Vai ser uma merda...” ,fazendo referência a uma piadinha que se contava muito na época. E ele conta a tal piada quase gargalhando.  “Quando o Onassis foi pro céu ele chegou lá e São Pedro, que estava na porta, disse:

- Você é o Aristóteles Onassis?
- É, sou eu.
- Onassis que tem o Iate Cristina e que reúne as mulheres mais lindas do mundo?
- Sim, sou eu, por quê? Eu não posso entrar?
- Pode. Mas vai achar uma merda!
Entendeu?”

Na gravação do programa com Chico Buarque, em 1973, Faro conta que o compositor e amigo usou seu  violão. E que após a gravação ele lhe disse “Baixo esse violão é bom, acho que vou ficar com ele.” E Baixo retrucou: “Não senhor...”


Para revelar a intimidade dos artistas e falar sobre assuntos delicados, o jornalista conta que às vezes um contato físico ajudava. No programa Ensaio com Wanda Sá, quando perguntou sobre sua separação de Edu Lobo, ela contou que foi muito ruim, que doeu e ainda doía. Aí ele colocou a mão na perna dela, em um gesto de solidariedade, de amizade, e percebeu que aquilo a fez ficar mais a vontade.

Entre os artistas da nova geração da MPB, ele destaca a entrevista que fez com o músico carioca Pedro Luís, do grupo Pedro Luís e a Parede. “Ele é um cara muito interessante.”Além de seu trabalho na TV, Baixo produziu os discos “Arca de Noé 1 e 2”, e ganhou disco de ouro por compor a abertura do disco também infantil “Casa de Brinquedos”. Foi também  responsável por produzir e dirigir grandes shows com artistas como Ney Matogrosso, Dorival Caymmi, Gal Costa, Chico Buarque, Marcos Valle, Clara Nunes, Ivone Lara e muitos outros.

Para o amigo Arrigo Barnabé, ele é “o guru da MPB”. Para Wandi Doratiotto, Fernando Faro não é somente um grande arquivo de Música Popular Brasileira, ele é “um amplificador efetivo e afetivo do que de melhor se fez no Brasil nessa praia.” Amigos, colegas de trabalho, artistas, todos possuem muita admiração pela carreira sólida e de sucesso deste sergipano tranquilo e criativo que, quando recebe elogios, se emociona e abre um largo abraço.






Um comentário:

  1. Fala Cintia, bele?

    O Faro daria um documentário fácil fácil ein? Adoraria fazer um projeto desse! Tem interesse? Acha que rola?

    Beijos!
    Leandro

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