quarta-feira, 23 de maio de 2012

Quase Estrelas

A difícil trajetória dos jogadores de futebol que não alcançaram os grandes clubes e os salários milionários


Por João Paulo Mendes
 

No Brasil, onde o futebol é uma grande paixão, vários garotos sonham se tornar grandes astros deste esporte, alcançando riqueza, fama e reconhecimento. Um trecho da música "É Uma Partida de Futebol" da banda Skank descreve muito bem isso "... Bola na rede pra fazer um gol. Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?...". Porém, essa trajetória é cheia de incertezas, dificuldades e desafios. Na maioria dos casos, eles não se tornam estrelas e nem ser quer chegam a ser jogadores profissionais.
 Tudo começa nas escolas de futebol, lugar em que, normalmente, se aprendem os fundamentos básicos do esporte. Segundo Bruno César Pereira Leonel, coordenador de uma das escolinhas Chute Inicial, que pertencem ao Corinthians, os garotos podem começar a jogar aos cinco anos de idade. A partir dos onze, os alunos que se destacam começam a ser levados para o clube, onde serão avaliados em testes, mais conhecidos como "peneiras".
 Quando são aprovados, passam a jogar pelo time, sendo divididos por faixa etária até chegar ao profissional. "Entre os treze e os dezessete anos, a gente vai ver se o garoto tem condições de se tornar um jogador profissional ou não. Muitos fazem parte das categorias de base, mas não estouram, não chegam a ser jogadores profissionais" diz Leonel.
 Na base, conforme o jogador fica mais velho, vai subindo de categoria, mas corre o risco de ser dispensado pelo clube, caso não esteja à altura dos demais atletas. "Ele precisa continuar se destacando. Existem as trocas de treinadores, por exemplo, o técnico do sub-13 não faz um bom trabalho, o ano que vem é substituído. Ele acaba mudando todo o elenco, mais ou menos o que ocorre nos times profissionais, isso também acontece nas categorias de base. Para o menino continuar, ele tem que se destacar! Precisa ter ajuda dos pais, ter uma boa estrutura familiar, montada para dar respaldo ao garoto" afirma o coordenador.
 Outra situação: um jogador do sub-15, quando completa dezesseis anos de idade, se aprovado, passa a pertencer ao sub-16 e assim por diante, até os vinte anos. Quando completa vinte e um e não é promovido à equipe profissional, se não houver algum outro projeto para jogadores acima de vinte anos, ele provavelmente será dispensado pelo clube. Então, terá que procurar outra equipe ou desistir da carreira.
 "O futebol é difícil mesmo. Por causa da quantidade de gente. Principalmente, nos grandes centros, São Paulo, Rio de Janeiro... Vêm pessoas do Brasil inteiro para fazer teste no Corinthians. O que eles veem na televisão, os jogadores que deram certo, é uma minoria perto da quantidade de pessoas que tentam e querem seguir a carreira" diz Leonel, e complementa: "Eu costumo dizer que virar jogador é que nem ganhar na loteria!".
 Sucesso distante. Vários tentaram seguir a carreira futebolística e não alcançaram o sucesso. Cada história tem suas peculiaridades, mas, normalmente, o objetivo do garoto é sempre o mesmo: conquistar uma vaga de titular num time de grande expressão nacional, chegar à seleção, posteriormente, brilhar nos gramados das equipes europeias e, quem sabe, ser eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo. 
O mecânico Anderson de Oliveira Cunha, 33, é um deles. Dos treze aos dezoito anos, jogou na base da Portuguesa, mas foi dispensado. "Jogar no juvenil é mais fácil, o grande problema é conseguir ir para o profissional. Quase não tem oportunidades, há muita concorrência para poucas vagas, isso quando existe vaga" afirma Anderson, que fez outros testes e jogou em clubes pequenos. "A vida do jogador que não consegue oportunidade nos grandes times é complicada. Vivemos numa constante incerteza. O salário é pequeno, muitas vezes, trabalhamos em outros empregos para complementar a renda. Eu desisti da carreira para estudar, ter uma profissão garantida, pois o futebol dura pouco", diz o mecânico que, mesmo quando era jogador, já consertava carros em busca de uma renda melhor.
Mais um a tentar a sorte no futebol, o comerciante Rodney Santos Cavalcante, 31, sempre sonhou em jogar num time grande de São Paulo e vestir a camisa da seleção brasileira. Foi juvenil no Americano e depois na Ponte Preta, não chegou ao profissional do clube, mas ainda tentou jogar no exterior, antes de abandonar a carreira. "Fiz vários testes em Portugal, queria tentar, mas achei mais difícil do que aqui no Brasil. Lá, sem nenhum apoio, longe de casa e da minha família, vivendo na solidão e pagando aluguel, tudo se torna mais complicado" diz Rodney. Ele afirma que existem vários brasileiros levados por empresários tentando uma oportunidade na Europa, alguns vivendo em situações precárias.
Para o ex-jogador Gilson Robério de Sousa, 36, o futebol é uma grande ilusão. Ele jogou nas categorias de base do Náutico, mas, como muitos outros, não foi para o profissional e teve que procurar outro time para dar sequência à carreira. "Joguei em várias equipes, tentando aparecer para o mercado dos clubes grandes. Como muitos colegas, não tive sucesso. Nos times pequenos não há estrutura e muito menos a glória que é mostrada na mídia, você acaba indo de um time para o outro, e na maioria das vezes, não dá em nada" diz o ex-jogador. Diferente das estrelas que ganham salários astronômicos, ele afirma que já chegou a ganhar R$ 900,00 por mês como jogador.
O esporte que mexe com a imaginação, a emoção e o humor da população, não só no Brasil, mas em todo o mundo, capaz de parar um país nem que seja por um instante e fazer o povo esquecer todos os seus problemas, é aquele que também proporciona uma carreira inconstante para boa parte dos que tentam nela ingressar. Pois, ao contrário do que normalmente é mostrado na mídia, são pouquíssimos que alcançam o estrelato, os grandes contratos com salários milionários e o reconhecimento por parte do público. Uma modalidade esportiva muito generosa com alguns, mas implacável com a maioria: assim é o futebol.
























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