segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vigiando a mente

Saiba como as empresas de segurança cuidam da saúde mental dos vigilantes e quais os males causados pelo estresse da profissão


Por Leandro Silva

Em uma rua da cidade de São Paulo, um rapaz para sua moto ao lado de um portão vigiado por um segurança. O coração do segurança gela, ele não sabe a intenção do rapaz e em sua cabeça relembra quando a empresa em que trabalhou foi assaltada. “... ele apontou a arma pra mim e mandou eu entrar. Nesta hora pensei que ia levar um tiro nas costas”. Foi o que Ciro Gomes, vigilante de 52 anos, contou à reportagem.

A sensação de insegurança nas grandes metrópoles e cidades de porte médio brasileiras leva muitas pessoas e empresas a buscar vigilantes para “complementar” o trabalho da Polícia, teoricamente a instituição responsável por garantir a segurança dos cidadãos. De acordo com a SESVESP (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo) mais de 400 empresas de segurança atuam legalmente no estado. Em todo o Brasil, são 540 mil vigilantes.

O sindicato afirma que a saúde mental do vigilante é determinante para a habilitação e manutenção de sua carreira. De acordo com a Lei N°7.102/83, o vigilante deve passar no mínimo a cada dois anos por uma avaliação psicológica para renovar a CNV – Carteira Nacional do Vigilante. O problema pode estar no objetivo dessa avaliação, que pela interpretação da lei serve apenas para adquirir e renovar o registro para exercer a função. “Tenho que ficar atento a todos e correndo risco de vida... estamos expostos a sol, barulho e poluição. O funcionário só é bom quando ele está com saúde, quando fica doente, não serve mais”, desabafa o vigilante Ciro. “Seria importante que esta avaliação bianual tivesse poder de reprovar o vigilante com problemas psicológicos e, por mais duro que seja, induzir a sua demissão”, afirma o sindicato.

Com intenção de melhorar o trabalho do vigilante, o sindicato lançou uma Campanha de Valorização do Vigilante que teve até a produção de um vídeo incentivando e humanizando o profissional da área.

Atitude diferenteNa cidade de Santana de Parnaíba há diversos condomínios fechados. Paulo Musa, que é gerente de segurança de um desses condomínios, mostrou estar atento a saúde mental de seus funcionários. Para ele a profissão do vigilante dentro do residencial é delicada, pois eles lidam com armamento e veículos para realizar a segurança do local. “... já começa num nível de estresse bem alto e quando você está no plantão esse nível só aumenta”, afirma Paulo. Ele diz orientar os encarregados dos plantões a conversarem com os vigilantes antes e durante o turno de serviço. “... a gente vai conversando... se a pessoa tem um problema, ao invés de guardar pra ela, ela traz pra você e não deixa a coisa explodir pra depois você tomar uma atitude” – conta Paulo, que também conversa com os vigilantes. Essa atitude minimiza os riscos para os funcionários e para a empresa contratante. Paulo adiciona que, quando detecta algum problema com um funcionário, este é colocado em alguma função mais administrativa, longe do estresse de vigiar e assegurar a vida dos outros.


O diferencial não está somente no tratamento diário com os vigilantes. A maioria das empresas de segurança hoje é terceirizada, diferente do que ocorre na gestão de segurança do residencial, que é liderada por Paulo.  Lá, o próprio residencial contrata os vigilantes e administra o setor. “... as empresas terceirizadas sempre trabalham no limite mínimo. Pagam o piso do salário, dão o mínimo exigido por lei e esse mínimo pra quem faz o máximo é frustrante” – salienta o gerente. Este detalhe parece fazer a diferença quando o assunto é a saúde mental dos vigilantes, já que existe uma atenção maior com cada funcionário.

Sob pressãoIgnorar a saúde mental dos vigilantes implica no aparecimento de diversos distúrbios: depressão, esquizofrenia, síndrome do pânico, crise de fúria e outras enfermidades psicológicas.

De acordo com a psicóloga Solange Capeleti estas doenças podem se tornar irreversíveis afetando até a integridade física do vigilante. “O vigilante passa a maior parte do tempo sob pressão, tem sempre que estar atento a tudo que acontece a sua volta, o que gera um desgaste mental intenso...” – observa a psicóloga. Ela ressalva que é fundamental que estes profissionais tenham um apoio psicológico regular. “... principalmente quando se envolvem em algum incidente diretamente” – diz Solange.

A maioria das empresas de segurança ignora a saúde psicológica dos vigilantes que se envolvem em situações reais de perigo. Procurados pela reportagem, muitos seguranças e vigilantes comentaram a falta de apoio após se envolverem em ocorrências de risco. Solange alerta que não apenas a mente do vigilante deve estar sadia, a qualidade de vida também precisa ser levada em conta (alimentação, sono saudável e etc.).




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